LOOKING FOR POKEMONS

Infâncias Eternas

JC - crônica - pokemon - ajus

 

Paramos na praça em frente da Igreja do Bom Jesus e vimos uma cena bastante divertida. Todo mundo corria para lá e para cá, parecia uma busca ao tesouro.

Perguntamos a uma garota e ela respondeu:

– Estamos atrás do Pokemón.

O amigo dela veio ajudar a explicar o fenômeno que acontecia.

– Nosso GPS diz que o Pokemón está aqui.

Sorrimos entre nós. Só faltava o padre Cândido aparecer e nos envolver com seus argumentos, pouco eloquentes, mas sempre inteligentes. Pokemón, na nossa imaginação, era ilustração de desenhos de décadas passadas. Pokemón está vivo.  Na verdade, a mídia e o comércio sempre inventam, tudo se repete. Agora o Brasil está também correndo atrás dos bichinhos bonitinhos para pura diversão.

O fenômeno do Pokemón é que, nesta rodada comercial, vem um aplicativo e através dele todos ficam procurando-o. De fato, se vão achar ou não, sinceramente não sabemos. Dizem que até evapora, que quando é encontrado dá uma risada gaiata e desaparece. O mais  divertido no momento é sua insana procura.

Um rapaz nos vê com o celular que havia tocado e estava em nossas mãos e corre perguntando:

– Alguma pista, tio? Já achei vários deles, estou há horas.

O “tio” foi triste, mas explicamos que não tínhamos nenhuma e o rapaz continuou sua busca intensa pela Avenida da Saudade e mesmo entre os túmulos.

Ficamos imaginando que o mundo se recicla, mas não perdeu nada dos velhos tempos.  O tal do bambolê foi uma febre imensa e não tinha quem não brincasse com aquelas argolas em volta da cintura. O rádio de pilha, pequenino, não o grande foi sensação e não tinha quem não tivesse um pendurado na orelha.  Obsoleto? Diante do celular, sim. Mas nem se sonhava que um dia existiria. Pensar em telefone numa época que era dificílimo ter um em casa, anos e anos esperando chegar. Calcule a dificuldade de ligar para São Paulo e Rio Claro, chamando a telefonista.

Hoje, o mundo é mais fácil. Tudo mudou, mesmo que ainda tenhamos violência, corrupção, maus tratos e preconceitos. Esta busca do tesouro conta até com GPS. Direciona os jovens para estas brincadeiras, que aparentemente, apesar de ser uma correria não deixa de ser algo divertido e democrático. Isso é uma grande virtude da brincadeira.

Os pais ficam preocupados. Aliás, os pais ficam sempre preocupados. O mundo moderno deixa-nos com esta sensação devido à falta de segurança.

Mas não podemos censurar as brincadeiras que aparecem. Em todos os tempos, tivemos “febre” de brincar, uma hora de um jeito, outra de outro. É preciso não ultrapassar a linha do proibido. Segundo lemos, o que uma brincadeira desta rende de dividendos daria para construir milhares de escolas e hospitais. Mas não é por falta de dinheiro que não temos hospitais e escolas; é por excesso de má vontade e corrupção.

Melhor continuar olhando sobre o ponto de vista dos jovens. Tem Pokemón por aí, continuem sua procura. Em todas as praças, os canteiros não dão conta dos caçadores do bichinho virtual. Daqui alguns anos,  esta juventude terá filhos e lembrará que no tempo deles saíram como “doidos” correndo atrás do Pokemón e quando os filhos perguntarem dirão apenas:

– Eram momentos tão bons, a gente gostava tanto de procurar o Pokemón, pena que não existe mais.

Existirão outras coisas. Talvez os jovens do futuro voltarão a caçar vagalumes e grilos nas noites escuras. Assim é a vida. Procure a criança dentro de você e reparta com suas crianças estes momentos. Procure “pokemóns”, mas procure as pessoas, pais, amigos, filhos, pois eles não desaparecem gargalhando quando são encontrados. Eles te abraçam e te protegem. Você brincou de bambolê ou bolinhas de gude, ou soltou pipa, não se esqueça, que a inocência se renova nas gerações. Não diga nada, apenas pense e vá caçar seu Pokemón.

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia