INVERNO ROUPAS NOVAS E NAFTALINA

 COISAS BOAS DAS INTEMPÉRIES

 

Interessante, de repente estamos no outono e de repente é um frio de rachar, como se diz. As temperaturas no nosso estado nunca foram tão baixas. São Paulo registrou recordes. Para um povo que vive praticamente o ano inteiro com uma temperatura alta, o frio se torna novidade geral. Nas redes sociais, vemos cães, cavalos, gatos e outros bichos agasalhados. É bem  engraçado; será que precisam mesmo ou os donos que gostam de enfeitá-los com trajes invernais?

                Fomos visitar alguns amigos e todas as senhoras estavam elegantemente trajadas, cada uma com seu cachecol ou lenços combinando com as cores de suas roupas. Os homens não fizeram feio, estavam com suas malhas ou casacos. Todos tinham tirado seus casacos bonitos do armário. Sentia-se a naftalina no ar.

 – Nossa – cada um que chegava elogiava o outro – que casaco bonito, dona
Fátima. Presente do Expedito, ou promoção mesmo? – ela nem respondeu!

– Obrigada, mas seu cachemir é lindo –disse a Eliane do João Gilberto.

– Nem se compara com o sobretudo do Carlos da Siomara, retrucou a Eliane.

E lá chegava outro casal.

– Que elegância Marcos, seu paletó de inverno, presente da Silvia no dia dos Namorados?

Percebia-se a ironia, mas o Marcos, manteve a linha:

 É antigo, mas é que hoje está frio.

– Mais bonito é o cachecol da Silvia do seu Lincoln. Modelo art-nouveaux.

– Compramos juntas na última viagem, disse a Nette do Sílvio.

– Vocês compraram, e levaram horas na loja, interveio do Silvio Magalhães.

– Mas quem está bem é você, Silmara, com este cachecol todo chique – ela nem levantou a cabeça. Afinal eram apenas conversas cotidianas.

Bem, todos ali estavam elegantes. A cidade toda estava elegante, pois todos aproveitaram o inverno para mostrar suas últimas novidades.  Até a Shirlei do CCI estava num manto bem bonito. Daí vem a possibilidade de um queijo e vinho, um quentão, pipoca, sopas de todos os sabores, café, chocolate, chá a toda hora e nos sentimos felizes.

Por outro lado, ficamos pensando naqueles que estão sofrendo no frio, cinco moradores de rua morreram devido a temperatura. A prefeitura foi acusada de negligência, a igreja abriu suas portas na Igreja São Francisco (em São Paulo). De fato é necessário cuidar destes moradores e abrigá-los em lugares devidos. Mas os que procuram um lugar para dormir, precisam encontrá-los.

O inverno traz coisas diferentes para nós, acostumados com muito calor e roupa leve. A meteorologia anuncia que tudo é por causa de uma frente fria que estacionou na parte sul do país e em seguida veio uma massa polar. É engraçado, mas pode ser que  quando chegar a hora do inverno, teremos calor de novo. As pessoas querem fazer como os ursos, deitar e ficar no quentinho até o frio desaparecer.

O mal do inverno é levantar cedo, escuro, com neblinas que começam a noite e somente de manhã com o sol elas vão embora. Ver neste inverno os campos brancos no sul do país com a temperatura zerada e infelizmente queimando as hortas, as plantações, nos deixam tristes. Como se diz, da nuvem para cima não podemos fazer nada, aceitamos o que a natureza faz, afinal temos quatro estações, estamos no outono, logo teremos inverno.

 Aprendemos que com o tempo nada podemos fazer, apenas nos agasalhar no inverno e aproveitarmos o sol do verão, no outono nos prepararmos e na primavera nos deliciarmos com as flores que chegam.

Não é mal o inverno. Além de mostrarmos nossos casacos e cachecóis, ficamos mais suaves e serenos e despertamos a nossa solidariedade. Trata-se sempre de colher framboesas  nos espinheiros. Não nos esqueçamos de ajudar os irmãos mais pobrezinhos, com doações, não apenas de coisas obsoletas, mas de bens necessários. Se todos colaborarmos um pouco, o inverno será menos frio e se vier o frio, seremos aquecidos pela solidariedade. 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia