TREM, A SAUDADE DA SAUDADE

EXPOSIÇÃO DOS FERROVIÁRIOS

 

 

Sempre temos novidades em nossa cidade. Quando são boas notícias, temos uma vontade imensa de contar para todos a razão de nossa alegria. Nesta semana, degustamos a beleza da arte da Josi Lazzarini. Uma realidade de sonhos.  Mas queremos ainda recordar outra bonita novidade, que  é a EXPOSIÇÃO DOS FERROVIÁRIOS.  Marquinho Muniz nos motivou para prestigiar esta belíssima exposição.

Corre na veia de todos nós, jovens ou "muito maduros", o deslumbramento pelos trens. Nada mais nostálgico que o apito dos trens na distância. Certamente deve ser a famosa herança dos avós. Pois numa cidade como Rio Claro, grande parte da população é  descendente de ferroviários. Em todas as famílias, encontramos pelo menos  um avô, um tio, um irmão, um primo ou um amigo que trabalhou nas locomotivas. Sem contar aqueles que trabalharam internamente nas estações, nos escritórios, nas oficinas e outros departamentos. Época de Ouro do trabalho de cada um, que suava verdadeiramente a camisa, trabalhava exaustivamente nos fornos de lenha, mas retornava para casa feliz. O emprego era não somente o que sustentava a família, mas era o cerne de gostar do que fazia. Trabalhar nas ferrovias era ver as estrelas  durante as noites e os campos verdejantes durante o dia. No serpentear  dos trilhos  encontrar a lua acompanhando o trem e os rios fazendo-se de espelhos quando o tem passava. Das janelas observava-se o mundo crescendo, as casas construindo, as crianças indo para as escolas. E nas estações,  gente, muita gente viajando, com suas enormes malas;  famílias alegres viajando em férias.

 Sr. José Carlos Camargo  nos recebe com aquele ar de alegria. Está realizado, com seu filho, o Jonatas,  falando sobre a exposição. Mostravam  as peças dos trens, os apitos, os livros, as maquetes que fez, como um fabricante de relíquias.

Não esquecendo – diz o José Carlos – das famosas maquetes do Sr. Antônio Cruz, que sempre se esmerou para fazê-las iguaizinhas aos trens de verdade.

– São lindas – disse o Marquinho Muniz – sempre fazem  sucesso. As crianças ficam doidas querendo brincar com as maquetes.

Todos concordamos. – Fantásticas, difícil saber qual é a mais bonita.

A exposição nos leva ao passado, do tempo que ainda acreditávamos em alguma coisa boa como as ferrovias. Fazia parte de nossas vidas. Ainda hoje é algo mágico viajar de trem. Podemos entrar num avião e rapidamente chegarmos ao destino. No entanto, o trem tem a magia de lembrar a saudade que toca o nosso coração, silenciosamente.  Talvez, porque a simplicidade da poesia de um trem não possa ser descrita; ela é como uma música. Ainda soam na memória o apito nas curvas, nas estações e mesmo ao passar por outro trem. As recordações  nos transportam  a milhares de estações que vivemos na vida. Dos sonhos de menino, do jogo de futebol, das namoradinhas, das noivas, do primeiro filho, do primeiro neto, das cidades que foram crescendo, crescendo. Não foi apenas um desastre econômico e social. A decadência dos trens trouxe também tristeza espiritual. A vida moderna tirou o encanto quando os trens pararam de andar em seus trilhos da emoção.

É esta magia que nos permite achar que o tempo era bom, que havia luz de luar todos os dias. Sabemos que não é assim, mas este encanto nos cantos e contos de trem sempre existirão. Enumeramos filmes que foram feitos sobre os trens e ficaram na mente do espectador. São sonhos retratados que nos mostram personagens reais. Prestigiamos amigos  de Rio Claro que deram suas vidas nas locomotivas, enquanto suas esposas e filhos os esperavam alegres e felizes. A exposição nasceu do coração destes amigos formidáveis, como o Roberto Reis, o Matteco, o Marcos Muniz, o Jonatan e seu pai, José Carlos de Camargo. Imaginem o Edgar Santana; parecia um menino que revivia  sua infância, correndo atrás do trem veloz. Pecado que sobraram somente recordações, os trens se foram e não sabemos se voltarão.

O orgulho de cada um que deu sua vida nestas locomotivas, não puxava somente vagões, mas a própria existência de uma cidade. Aqui era um reduto da vida ferroviária, era uma estação onde tudo acontecia.

Marquinho Muniz nos diz que o "trem é a saudade da saudade", pois ela nos leva ao passado de um passado feliz, onde éramos felizes com a vida que tínhamos, sem quase nada e ao mesmo tempo com tudo. Não precisávamos de celulares, carros, grifes, nadinha, apenas passear de trem e encantar-se com a vida lá fora.

Talvez estejamos muito poéticos, mas quem for à exposição dos ferroviários, vai entender nossa prosa e certamente vai viver a mesma emoção que nós vivemos.  Vai sentir na alma que "trem é a saudade da saudade".

 

 

Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e

Teologia Sistemática – Cristologia

Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e

Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia