ATENDE FÁCIL, DIFÍCIL E COMPLICADO
Lá estava numa banca uma placa: – Ovos frescos. E sobre a placa os pintinhos que perfuravam os ovos. E a mulher do quitandeiro dizia:
– Querido, ou mudemos a escrita da placa ou os ovos.
Não longe dali, alguns idosos conversam:
– Fiquei duas horas no Atende Fácil – disse um deles.
– Eu também, coloquei uma hora no estacionamento na rua. Tive que voltar para colocar mais uma hora. Atende fácil – ironizou.
– Sério? – perguntou o primeiro.
– Sério, daí me deu o preferencial. Achei que sairia logo, mas ledo engano.
– Eu também reparei isso – disse outro – não vou querer ser mais preferencial. A jovenzinha que estava na minha frente foi embora logo, eu amarguei duas horas.
– O que você precisava lá?
– Um cartão de idoso! – Grandes gargalhadas de todos. Conversamos um pouco e fomos embora.
Paramos para pensar que esta história de atender o idoso é mesmo de dar gargalhadas. Outro dia, num banco ao lado da prefeitura, ficamos mais de uma hora e meia com o senhor Robertinho para uma transação no caixa. Significa que o atendimento preferencial está se tornando ridículo. Mais uma enganação dos poderes públicos. O Estatuto do Idoso é claro, mas alguém já leu os seus direitos? Convém que a família comece a ler o Estatuto do Idoso para ver os direitos do vovô e da vovó. Não é bem isso que está acontecendo na nossa cidade.
No caso do banco, fomos reclamar a demora de uma hora e meia e a gerente disse que faltavam funcionários. Durma com um barulho desses. Reclamar para quem? PROCON? Lá também tem fila.
Não fosse isso, por certo, todos trabalhariam até o fim de suas vidas, todos querem ser úteis e o trabalho é o bem mais precioso que temos. E tantos trabalham em bicos, mesmo sem saúde, para poder sobreviver aos impostos e aos planos de saúde.
Não podemos tolerar que ao chegar nesta idade, o idoso tenha que ser “enganado”. Não basta ser preferencial, tem que ser decente, tem que ser respeitoso. E por isso, todos os doentes devem ser preferenciais, não deveriam criar teias de aranha nas UPAs que ironicamente significam "pronto antendimento".
Fila de banco é um ultraje, principalmente no dia em que o “coitado” vai buscar o seu dinheiro da aposentadoria, que já é uma piada. Trabalhou a vida inteira, cumpriu todos os rituais da vida, educou a família, não comprou nenhum triplex e muito menos um sítio lindo de morrer. E nem está contratado em nenhuma fundação da prefeitura, pois não é amigo do rei.
E se contarmos o drama nos hospitais, não vão acreditar, lá é o verdadeiro inferno na terra dos idosos e aposentados. Parece fantasia, mas podemos recordar a lei:
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população.
Como os governantes perderam a vergonha, os cidadãos precisam lutar. Afinal, tornou-se uma constante nos governantes: primeiro aprender a roubar e segundo a mentir. Como se alguém acreditasse em reportagens pagas. Sem luta decente, a cidade continuará indecente. Se somos cristãos, e não pseudo-cristãos, lutemos por justiça e contra os senhores das maracutaias. Seus nomes perecerão nas trilhas dos malfeitores. Certos nomes de família em nossa sociedade equivalem a um palavrão.
Combinemos assim, disse um idoso, ou "atende fácil" ou sugerimos que mude o nome. Se é ruim ser maltratado, bem pior é ser enganado.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia