21 fev A ESTATUA DELAPIDADA OS VERDADEIROS VÂNDALOS DO POVO
A ESTÁTUA DELAPIDADA
OS VERDADEIROS VÂNDALOS DO POVO
Recebemos visitas e como sempre levamos o pessoal que chegou de viagem a visitar a cidade.
– Queremos conhecer o lago que vocês falam tanto e que a gente já viu em alguns filmes que vocês fizeram – disse o Pedro da Lu.
– Eu quero ir ao centro da cidade, adoro cidades do interior que conservam aquele charme antigo – disse a Lucia. Fomos ao jardim público.
– Cadê a tal da estátua que vocês falaram, onde fica?
Cada um queria ver alguma coisa, somente nos restava levá-los em todos os lugares turísticos da cidade. Saímos pela cidade. – Realmente, uma cidade bem bonita.Chegamos ao Jardim Público. Procuramos uma estátua bem conhecida, ficava ali onde estávamos. Olhamos-nos e o pessoal esperando que nós mostrássemos o "índio tão artístico, cantado em verso e prosa". Restavam despojos, apenas despojos.
Já não basta o descaso com o povo que não tem hospital, com as barbaridades políticas de nossos governantes, que temos até medo das sessões de mentira que se seguirão nos meses antecedentes às eleições. Até imaginamos seus rostos com caras de anjos inventando estatísticas. Não esquecendo aqueles que ainda estão e querem ser reeleitos. Reeleitos? Mas o que fizeram pelo povo? Para o povo, não para comparsas e amigos.
Mas a pergunta continuava, onde está a estátua? Contaram-nos detalhes. O povo a danificou num gesto extremo.
– Que pena; um horror.
– Sim, um horror, danificar um bem público.
– Nada justifica, levaram para restaurar e sumiu.
Assim é a res-publica (coisa pública). Um bem que seria de todos, acaba surrupiado por alguns e torna-se um espólio de vândalos.
Não custou, o João Marcos, que mostrava a cidade extrapolou, um pensamento que o incomodava.
-O vândalo da estátua não é pior que os vândalos que espoliam bens públicos.
Todos olharam curiosos e ele não titubeou em seguir seu discurso.
– Se demolidor dos bens públicos é aquele que manipula os bens comuns para uso próprio, não tem diferença alguma.
Ninguém dizia nada, mas todos queriam saber que discurso se seguiria.
E ele foi discorrendo, sem tréguas. Vereadores que contratam uma infinidade de comissionados, com dinheiro público, é algo pior que destruir estátuas. Inventar taxas para cobrir gastos com a máquina administrativa é demolição dos bens públicos. Despejar dinheiro em fundações para empregar comparsas partidários e deixar o povo sem remédio, é pior que demolir estátuas. Mais ainda, inventar leis para encher-se de assessores para depois receber pedágio…
– Basta, basta, dissemos. Não vai querer deixar que nossos turistas levem uma ideia tão negativa da cidade.
Mas o João Marcos estava mais incisivo.
– Prefiro os demolidores das estátuas. São mais honestos. Eles se escondem amedrontados e não como outros governantes que ainda se exibem em praças, palcos e clubes, como se fossem benfeitores da humanidade.
Mas a pergunta ainda está no ar: a estátua virou pó? A estátua como os bens do povo, sumiram? Mas o rio é claro, mesmo que esteja com garranchos. Desengarranchemos o rio.
Em tempo: depois de termos escrito a crônica, soubemos do roubo da estátua do Ulisses Guimarães. Pobre homem, entre o roubo da praça e o seu nome usado para espoliar cofres públicos, sua memória anda desonrada..
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia
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