O CASAL SIMPÁTICO E O CÃOZINHO IDOSO
Estávamos entrando no carro para resolvermos alguns problemas burocráticos, quando vimos um casal, que sempre passeia com seu cachorrinho e vimos que o animalzinho que era tratado com tanto carinho, estava com dificuldades de se locomover, como sempre fazia. Vimos que eram parentes da cabelereira Bel e do Roberto, os pais da Lívia.
– O que aconteceu? Foi atropelado? – perguntamos ao Alex.
– Não – respondeu Fabiana – ele está idoso, está com problemas na coluna.
– E ele tem dores? – perguntamos em seguida.
O marido, Alex, irmão do Roberto, respondeu para nós:
– Tem sim, coitadinho, quando está com dor, ele fica num canto que dá até dó, meio quietinho e parece até chorar, o senhor acredita?
Fizemos “sim” com a cabeça, foi quando a esposa disse de forma triste, mas firme:
– Ganhamos o Bob – este era o nome do cãozinho – um pouco depois que nos casamos. E ele sempre foi nossa companhia.
E o marido, o Bob continuou; Os pets não têm uma vida tão longa. Quinze anos para um cachorrinho é um bom tempo. Foi nossa companhia ao longo dos anos.
O marido ainda completou:
– Vamos continuar cuidando dele. Sempre foi uma alegria a presença do Bob na família.
– Sabemos que é um cãozinho, mas sempre foi um bichinho carinhoso. Até parece parte da família.
– Aliás, acho que é. – É mesmo.
Não tínhamos mais tempo de conversar com eles e nos despedimos desejando melhoras ao Bob. Ele caminhava cambaleando, como se tivesse sido atropelado, mas era o peso dos anos.
O mais triste era olhar para o cãozinho e ver que ele não tinha mais o ar alegre, correndo e brincando, agora estava ali, apagando aos poucos.
Ficamos imaginando como deve ser difícil para alguém que goste de ter um pet em casa e uma hora tenha que se despedir dele. E o carinho que tinham com o animal, como levar no veterinário, fazer tratamento, é coisa bem triste. Pensando que o cãozinho deu tanta alegria e que agora precisa ser cuidado, faz com que pensemos em algo ainda muito mais pesaroso e preocupante, o idoso.
Podemos ter um cãozinho e cuidar sempre dele, mas não podemos esquecer-nos dos idosos, que tanto fizeram na vida e precisam, também, de muita atenção e cuidados. O vovô e a vovó que fizeram tanto merecem no fim da vida, todos os cuidados de seus filhos e netos.
É necessário cuidar dos nossos idosos com muito carinho, para que sua passagem pela terra possa ser maravilhosa, do começo ao fim. Assim como queremos cuidar do cãozinho que tanta alegria deu à família, jamais podemos esquecer-nos dos sacrifícios dos nossos pais e de nossos doentes.
Cuidar do filho para que um dia ele possa cuidar do pai, assim pensavam nossos anciãos, que eram tão respeitados e hoje não vemos mais isso como uma verdade absoluta. O casal vai continuar a cuidar de seu cãozinho e certamente um dia cuidarão com muito mais carinho ainda de seus pais. A vida é uma estrada longa com muitos caminhos, mas certamente o mais belo é o caminho do agradecimento.
O carinho que se tem pelos pais no final da vida, revela toda a bondade e amor dos filhos. É no sofrimento que os filhos podem ainda tirar as lições mais enobrecedoras de suas vidas. O tempo inverte a posição. Agora são filhos que cuidam de seus pais, como se de repente se tornassem seus filhos.
Ano Novo, jogamos muita coisa fora, rasgamos muitos papéis, despachamos muitas coisas; mas carregue consigo o que é perene: os grandes sentimentos e as verdadeiras afeições.
Pe. Antônio S. Bogaz (orionita), doutor em Filosofia, Liturgia e Sacramentos e
Teologia Sistemática – Cristologia
Prof. João H. Hansen, doutor em Literatura Portuguesa e
Ciência da Religião e Pós-doutor em antropologia